quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Seminário PPSUS , FAPERGS nov 2012

Mais uma etapa do PROCONVIVE se finaliza. Apresentei, na tarde de ontem, para a comissão de avaliadores do PSSUS (pessoal da FAPERGS  e Ministério da Saúde na pessoa da simpática e competente Luci Scheffer) os resultados finais e suuper sintetizados para caber em 10 lâminas e 20 minutos. Saldo mega positivo. Nosso trabalho gerou burburinho e apresentou sua aplicabilidade ao SUS na forma da atenção integral em saúde, humanização e promoção de saúde. Se caracterizou, de fato, por um projeto a ser apoiado pelo PPSUS (ver abas acima), na intersecção ensino e serviço.

Na sequencia dos eventos, hoje estamos tendo um seminário dentro daquele, para a seleção de temas para o novo edital de 2013. A representante do Ministério da Saúde, ao exemplificar o tipo de projeto merecedor de apoio, diz assim, " como o projeto do capsi da professora..." e aponta pra mim, ali no meio dos pesquisadores do rio Grande do Sul, a maior parte, médicos. E a cada diretriz apresentada por ela, mais e mais nos encaixamos. Um pouco de feeling, um monte de competência, nossa, do pessoal do CAPS, na época na figura da Mariana Hollweg Dias, e da Elaine Tomasi, ao me ajudar lá nos primóridios, com o design do projeto e a cedência dos instrumentos.

E assim estamos, mais uma vez com a sensação de dever cumprido. Ah, não posso esquecer também da Dilce, da FAPERGS, que é psicóloga e disse que ficou maravilhada com nosso projeto.

Mais, é mais do mesmo. O resto eu deixo pra vocês. Acho que nunca deixaremos de ser PROCONVIVE.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Fragmentos do ambiente

Construindo o ambiente do CAPSi com João (nome fictício)


Às vezes João, 9 anos, chegava cedo pela manhã ao CAPSi, e brincava até o horário do seu grupo no fim da manhã, embora brincasse sozinho sempre esperava que alguém o acompanhasse, era esse olhar que dava algum sentido as suas brincadeiras, elas normalmente correspondiam a brincadeiras de crianças muito pequenas, ele ligava e desligava as luzes, se escondia e reaparecia atrás da almofada, e tentava insistentemente compreender os limites do que era ele e o que era o outro. João tinha poucos recursos para se integrar e para se diferenciar dos outros, João parecia perceber todas as coisas grudadas, nesse sentido, um dia João decidiu colar todos os móveis de uma das salas do CAPSi com fita adesiva, e assim fomos, a mesa se colava a cadeira que se colava a estante. Nós nos dedicamos a recriar o mundo, como ele o percebia.
Embora o corpo e as brincadeiras apresentassem menos idade, João, no auge dos seus 9 anos, já ia e voltava sozinho do serviço, tentando se cuidar como podia, embora o serviço insistisse a família nunca comparecia. João estava sempre em busca de um olhar, de um outro, as vezes ele fazia essa procura através de comportamentos agressivos, João xingava, falava palavrões, dizia que não queria ninguém por perto, fugia, tentava invadir os carros na rua, tocava insistentemente a campainha do serviço, era esse ambiente constante do CAPSi que permitia que alguém sempre estivesse lá para olhá-lo, o que o acalmava. Um dia, gritando, se trancou em uma sala, ao solicitar que ele saísse eu bati na porta, ele respondeu com a mesma batida, assim ficamos então, ele trancado para o lado de dentro e eu no lado de fora, repetíamos o som dos dedos um do outro, por uns instantes a porta foi um importante instrumento de percussão que permitia que João não precisasse de palavras para compreender que havia um outro, do outro lado, interessado em escutá-lo, aos poucos fomos mudando os ritmos, complementando as notas, até que o ritmo de um não era igual ao do outro, era complementar, ele fazia uma sequência de toques e esperava que eu fizesse a minha. João talvez não tivesse recursos para demonstrar de outro modo o quanto o mundo se tornara ameaçador, o quanto era difícil se diferenciar do outro e se relacionar sem uma porta como escudo.
Cabe dizer que para que João perceba que há um eu e um outro, será preciso muito tempo em ambiente e algumas batidas na porta, mas acredito que algo já tenha sido construído,  na saída, enquanto observávamos ele indo para casa ele se escondeu atrás de uma árvore e por alguns instantes se certificou que permaneceríamos ali, e ali estaríamos na semana seguinte quando ele voltasse, ele percebeu que é possível que haja um outro que seja constante e que possa corresponder as demandas dele.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

........ mental.


Complete o pontilhado acima com "Saúde" ou "Doença".

Em uma certa ocasião, conversava com um profissional da psicologia a respeito do meu estágio em um CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Não precisamos trocar muitas palavras para perceber que falávamos de estágios diferentes no mesmo local: em saúde mental e em psicopatologia/doença mental.
Apesar da insistência atual em se separar como “opostos” saúde e doença, esses “opostos” se atraem e fazem com que nos questionemos onde está o comum entre essas duas palavras a ponto de as unir como diferentes e não opostas.
Talvez uma pesquisa bibliográfica extensa ou mesmo curta possa responder, mas uma simples resposta para uma pergunta mudaria sua forma de completar o pontilhado acima? E mudando a forma de completar, mudaria também a forma de agir?
Longe de julgamento moral, pode-se pensar que o que muda não são apenas os nomes do estágio de saúde ou doença mental, mas também, o olhar e o tratamento que se terá sobre quem ali está.
Trabalhar com doença mental implica ver a doença, seu sintomas, melhores formas de redução disto que se apresenta tomando por base um padrão “normal” aceito socialmente. Se está, assim, correndo o risco de reduzir o sujeito em classificações diagnósticas e ações manualizadas que detém o poder da cura.
Trabalhar com saúde mental, por outro lado (na verdade um olhar diferente sobre o mesmo lado), se está priorizando a manifestação de um sujeito de desejo, autônomo e singular, com uma história de vida anterior à história de sua doença. Se está adentrando uma relação em que não se tem certo ou errado, nem poder, nem saber, nem cura. Arrisca-se no novo, na reflexão, na criatividade; arrisca-se no difícil e no desconforto.
Uma provocação: precisamos, porém, decidir se trabalhamos com saúde ou doença? Não podemos trabalhar com uma terceira opção, apenas com o “mental”?
Por enquanto, me contento com preencher o pontilhado com “Saúde” e você?

terça-feira, 10 de julho de 2012

os relatórios, as notas... a equipe

Uma delícia ter um projeto financiado por uma agência de fomento. Sonho de quase todos os pesquisadores. Eu tinha esse desejo muito forte: desenvolver um projeto que recebesse financiamento e que desse uma contrapartida à sociedade e não apenas à comunidade acadêmica. Acho que consegui. E conseguimos.
Conseguimos.
Desenvolvemos o PROCONVIVE, um convite à convivência. E levantamos dados, muitos dados. Tudo vira dado.

E as compras viram notas

E tudo isso vira um relatório



Isso não seria possível sem a presença de uma equipe maravilhosa, composta por seres humanos incríveis, na sua grande maioria, psicólogas e psicólogos em formação. Muito me orgulha ver e saber dos que saíram daqui, os caminhos que trilharam e especialmente, o caráter que têm. Gente que sabe ajudar. Gente que merece o título de gente.

Passamos por muitas transformações. Por vezes, pensamos que as transformações do nosso grupo eram as mais dolorosas, as perdas que tínhamos a cada final de ano e que eram um convite ao crescimento externo de nossa equipe. Pensamos, depois, que o mais doloroso era aplicar questionários; depois, construir um banco em SPSS; depois, preenchê-lo. Depois, as mudanças na equipe e na saúde do município. Depois, escrever o diário de campo. E, depois, terminar o projeto. Ao fim, surgem novamente as angústias que nos acompanharam, como uma sombra, a cada etapa. Tudo na tentativa de barganhar um tempo a mais.

O que foi mais difícil? impossível dizer.
Podíamos fazer um levantamento do que foi mais difícil para cada um. Teríamos respostas maravilhosas, como é o hábito do nosso grupo.

Qual é o nosso desejo nesse momento?
Talvez esse eu possa adiantar: que o nosso estudo e a nossa ação participativa criem sementes que gerem frutos. Mudamos o mundo? Certamente que não. Mudamos as políticas públicas? Não. Plantamos sementes?  Sim.
Convivemos.
Talvez o resultado efetivo seja menor que do que projetamos, posto que as mudanças inerentes aos nossos desejos - e ao nosso controle - foram muitas e inevitáveis. Mas temos resultados, especialmente na equipe de trabalho que nos avaliou, que avaliou nossa ação como muito importante, na maior parte do tempo.

Deixar dói.
Mas para que autonomia possa acontecer é preciso sair, ganhar o mundo.

Meus queridos alunos e colegas, muito obrigada.
Não existe um projeto como esse, sem uma equipe.

terça-feira, 19 de junho de 2012

meu diário de campo quantitativo

A incoerência já começa no título!
Estou terminando aqui a grande análise dos nossos dados quantitativos e fazendo o meu diário de campo de coordenadora e analista de dados. Parece a grande loucura de que falamos.
Quem montou o banco de dados sabe, a enorme quantidade de variáveis que temos, pesquisas pra uma vida toda.
E o melhor de tudo, resultados realmente interessantes, com possibilidades de melhora do lugar onde estivemos.
Mas, de verdade, ninguém merece corrigir tantos instrumentos. Eles nos dão a dimensão objetiva, captada através de perguntas objetivas e subjetivas também, além da percepção e observação participante dos entrevistadores. Eu adoro instrumentos, quem trabalha comigo sabe. Mas é uma tremenda responsabilidade essa correção, aliás, a aplicação também é, porque uma boa aplicação - como uma boa montagem de banco de dados - define todo o resto.
Tudo é dado, essa é a nossa frase: quem veio, quem não veio, porque respondeu e porque não respondeu e o que e como respondeu. Coisas demais!
Mas tudo numa tentativa de abarcar o máximo possível da realidade ambiental, física e emocional dos nossos participantes. Somados esses instrumentos à participação ativa, afetiva e competente dos bolsistas e auxiliares, vislumbramos resultados incríveis. E claro, muito, muito mais trabalho pela frente pra quem fica no local. Porque esse é o tipo de trabalho que nunca termina. Não basta um estudo e fim, é preciso formação e educação permanente.
Vamos nessa.
Não vou adiantar nada pra não perder o tal do ineditismo.
Mas tá bem legal.
Acho que a FAPERGS vai gostar. Oxalá!